Personagens Fantásticas com origem em Portugal:

A coca é um ser mítico, uma espécie de fantasma, bruxa ou papão com que se assustam meninos. Embora não tenha uma aparência definida, este ser assustador tinha uma representação figurada, a sua cabeça era uma espécie de abóbora ou cabaça da qual saía luz (ou fogo). A representação da coca era feita com uma panela ou abóbora oca em que se faziam três ou quatro buracos, imitando olhos, nariz e boca, e em que se colocava uma luz dentro e deixava-se, durante a noite, num lugar bem escuro para assustar crianças e pessoas que passavam. A coca é um ser feminino, o equivalente masculino é o coco embora ambos acabem por ser dois aspectos do mesmo ser, e confundem-se um com o outro na sua representação e no seu papel de assustar meninos; como nenhum destes seres tem uma forma definida toma-se um pelo outro.

No norte de Portugal, a coca é representada por um dragão com escamas. Na vila de Monção, conhecida como a terra da "coca", ela é chamada de "santa coca" ou "coca rabixa". Na festa do dia do Corpus Christi a coca é o dragão que luta com São Jorge na representação da lenda de São Jorge e o dragão. Há referências à Festa da Coca desde o século XVI.

Após a Procissão do Corpo de Deus, o povo forma círculo na Praça Deuladeu. A coca (o dragão) – uma estrutura de madeira com um homem no interior – e um cavaleiro representando S. Jorge, com uma capa vermelha, elmo e lança, iniciam a "luta". A coca é empurrada pelos populares contra o cavalo, enquanto o cavaleiro desfere golpes contra a carapaça. Finalmente, S. Jorge vence com um golpe sobre a orelha da coca. A coca sem a orelha perde a força. E assim, mais uma vez, o Mal é vencido pelo Bem.

Na literatura oral a coca é tema das cantigas de embalar, tal como o bicho-papão que rouba criancinhas ou a Maria-da-Manta que tem fogo nos olhos, é um ser que assusta as crianças, está sempre à espreita (está sempre à coca), e impede que o sono chegue. O sono é muitas vezes personificado por um outro ser mítico, o João Pestana.

No Auto da Barca do Purgatório (1518), de Gil Vicente, um menino identifica o diabo como o "coco"

“Mãe e o coco está ali

queres vós estar quedo co'ele?

Demo: Passa passa tu per i.

Menino: E vós quereis dar em mi

Ó demo que o trouxe ele."



Igdrasil (Roberto Mendes)


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